Podcast Bela Questão sobre os 7 hábitos de pessoas altamente eficazes

100º Os 7 Hábitos de Pessoas Altamente Eficazes

Trago este livro porque o li recentemente e é um clássico que considero indispensável para quem se interessa por desenvolvimento pessoal e inteligência emocional. Embora não seja um livro diretamente sobre inteligência emocional, estabelece uma ligação sólida com essa área, uma vez que todas as nossas decisões e comportamentos estão intrinsecamente ligados às nossas emoções. Quanto mais compreendermos o nosso comportamento e as nossas decisões, melhor seremos capazes de gerir e reconhecer as nossas emoções, usando-as de forma positiva nas nossas vidas.

Este livro é uma escolha valiosa por várias razões

Primeiramente, os princípios que apresenta são intemporais e eternos, não perdendo relevância ao longo do tempo. Stephen Covey, o autor, é norte-americano, e o livro foi lançado em 1989, mas ainda se mantém totalmente atual, mesmo após mais de 30 anos. A sua atemporalidade reside nos princípios fundamentais que Covey expõe, que são essenciais para moldar a nossa mentalidade e a forma como percebemos o mundo à nossa volta.

Neste episódio, vou resumir as principais ideias que contribuíram para a construção desta mentalidade e a nossa forma de dar significado ao mundo. Em seguida, irei abordar os hábitos e princípios que o autor defende. Covey tem a habilidade notável de interpretar o mundo e compreender a mente humana, o que torna as suas ideias inspiradoras e fundamentadas em factos. Acredito que muitas destas ideias te farão pelo menos repensar a tua organização mental.

Vale a pena mencionar que este livro tem tido um impacto significativo, até mesmo em Portugal. Na primeira parte, abordamos paradigmas e princípios, fundamentais para a compreensão dos hábitos. Os hábitos, por sua vez, estão interligados entre si, e Covey divide-os em três categorias: Vitória Pessoal, Vitória Pública e Renovação.

Um dos pontos-chave que o autor nos apresenta é a importância dos paradigmas. Covey acredita que os paradigmas influenciam a nossa perceção do mundo. Para ilustrar este conceito, partilha uma história marcante sobre um episódio no metro em 1989. 

Paradigmas: A história do metro de Nova Iorque

O ambiente estava silencioso, as pessoas estavam concentradas a ler jornais.  De repente, entra um pai com os seus filhos crianças, e as crianças começam a comportar-se muito mal. Começam aos berros, mexem nos jornais das pessoas, correm de um lado para o outro, e claramente começa a sentir-se ali uma tensão entre as pessoas. O Stephen Covey estava a olhar à volta a perceber se alguém ia repreender o homem ou o pai dessas crianças, que não estava a fazer nada para que elas se comportassem melhor e não incomodassem tanta gente. 

Entretanto, passam uns minutos, quando aquilo começa a ferver por dentro, o homem diz: ‘Ai, desculpe, que as suas crianças estão a incomodar. Aqui, esta gente toda não pode fazer alguma coisa para ajudar, para se tornarem mais bem comportadas, por favor?’ Ao que o homem, muito desconcertado, diz: ‘Ai, desculpe, tem razão, tem toda a razão. Acabamos de vir do hospital, a mãe deles faleceu, e eu realmente não sei muito bem como processar informação, e acredito que eles também não.’ 

De um momento para o outro, aquilo que era uma perceção de um pai com filhos desobedientes e malcriados passou para um momento de pura compaixão e um pai que estava em sofrimento e precisava de ajuda. Foi assim que começou uma conversa que pode ajudar. De repente, isto mudou o seu paradigma e faz-nos pensar como às vezes julgamos as outras pessoas. Se soubéssemos um pouco mais sobre o contexto do comportamento delas, possivelmente lidaríamos com a situação de uma forma completamente diferente. 

Até pode acontecer no trânsito, que eu acho que é uma história tão batida que já me chateia dar esse exemplo, mas quem diz no trânsito, diz às vezes em filas para serviços públicos, em que há pessoas que nos irritam porque passam à frente, e realmente é preciso que haja um grande conceito para que isso não seja um fator irritante. No entanto, há situações, por exemplo, em um restaurante, em que há pessoas que estão ali que desestabilizam o resto. De qualquer das formas, se não mudarmos paradigmas, se tivermos esta observação de cima e virmos as coisas como um todo, a nossa perceção muda, ou pelo menos pode mudar, conforme a informação que nós recebemos.

Temos que também ser capazes de perceber porque paradigmas é que nós vivemos 

Há muitos fatores que influenciam os nossos paradigmas, desde a nossa educação, os nossos pais, os nossos familiares, o nosso círculo de amigos, toda a informação que nós consumimos, a escola, a universidade. Todos estes atores sociais vão influenciando a nossa forma de ver o mundo, e nós temos que ter esta capacidade de perceber quando é que são os nossos paradigmas que têm uma influência sobre aquilo que nós vivemos do mundo. E porque este tem a fazer, ele diz que aquilo que nós vemos determina aquilo que nós somos. Então, se nós queremos mudar o que nós somos, se nós queremos ajustar algum dos nossos comportamentos, os nossos hábitos, que acabam por formar aquilo que nós somos, nós temos que mudar aquilo que nós vemos. Vou repetir: aquilo que nós vemos influencia aquilo que nós somos. Então, se nós queremos mudar algum aspeto daquilo que somos, nós temos que mudar a forma como nós vemos o mundo.

História dos dois navios 

Outra história muito interessante que o autor nos traz é para nos lembrarmos de como a informação que nós temos, quando não é completa, pode até tornar as nossas decisões bastante engraçadas. Isto foi publicado numa revista e é um contexto de guerra. Estavam dois navios, e o capitão deteta uma luz e percebe que estão em rota de colisão. Então, ordena através do rádio: ‘Daqui fala o capitão, mudem a roda em 20 graus, estamos em rota de colisão.’ Do lado lá, responde: ‘Daqui fala marinheiro de segunda classe, alterem a rota em 20 graus.’ Aqui, este marinheiro de segunda classe, a dizer a nós podermos a rota de 20 graus. Repete o capitão: ‘Daqui fala o capitão, alterem a rota em 20ºC, estamos em rota de colisão.’ E volta a receber a mesma resposta. E à terceira vez, já profundamente irritado, de voltar de nada, aqui fala a correr o capitão: ‘Alterem imediatamente a rota em 20 graus, estamos em contexto de guerra.’ Do lado, marinheiro segunda classe responde: ‘Isto é um farol, resto. Alterem a vossa rota em 20 graus.’ Enfim, a história não é quem é que tinha afinal que alterar a rota, era o navio do capitão.

Como se alteram os paradigmas? 

O autor traz-nos aqui estas histórias que eu acho que são bastante hilariantes para nós percebermos que às vezes nós tomamos decisões e interagimos com as outras pessoas e falta-nos a informação completa. 

E sem essa informação completa, nós podemos dar por nós a ter até reações emotivas completamente desnecessárias. Então, ele diz-nos para alterarmos, nós somos, também temos que alterar os nossos paradigmas. Fica a questão: ‘Ok, tudo bem. Vamos alterar aqui os nossos paradigmas, mas como é que se alteram os paradigmas?’ E eu acho que aqui é que está também uma boa parte da riqueza do fundo. Ele fala-nos em dois conceitos, que é ética do caráter e ética da personalidade. 

A ética do carácter vs a ética da personalidade

A ética do caráter é intemporal e foi trazida pelos filósofos há milhares de anos. Ela assenta em valores que não mudam, são valores que independem da nossa cultura, do lugar onde nós estamos, do ano em que nós estamos. São valores que são como verdades universais. Estamos a falar, por exemplo, de humildade, respeito, temperança e coragem. Quando falamos da ética de caráter, estamos a falar de nos basearmos nas nossas ações e, no fundo, termos estes valores como faróis para nos orientar nas nossas decisões.

Entretanto, mais recentemente, muito ligado ao mundo do desenvolvimento pessoal, surge uma nova abordagem chamada ética da personalidade. Esta ética da personalidade está muito mais focada nas técnicas e nos métodos de como ser bem sucedido, ser feliz e conseguir atingir progressão na carreira. Está muito mais centrada em estratégias de influência e no sucesso a curto prazo. O autor tem uma visão crítica em relação à ética da personalidade, embora eu ache que é importante sabermos como fazer as coisas e implementarmos as nossas ações de forma a estarem de acordo com os nossos valores. É importante saber o como, até que há táticas importantes, mas o que nos deve motivar não deve ser o como, nem devem ser essas táticas.

Ele faz até uma comparação com os estudantes que apenas estudam para os testes. É como perder a prova social. Ou seja, essas técnicas de influência são para exibição, para mostrar, e não estão relacionadas com a verdadeira essência do nosso ser, com aquilo que de facto queremos ser. Uma frase que ele cita de um autor chamado Emerson, que eu gostaria de partilhar contigo e que resume muito esta importância, é: ‘Nós olhamos para aquilo que nós somos em função daquilo que são os valores essenciais e não tanto em função daquilo que são as ferramentas e as táticas que queremos agora aprender em podcasts e livros para parecermos ser o que nós não somos.’

Posto isto, quando lemos livros de desenvolvimento pessoal ou ouvimos podcasts, o autor desafia-nos a agirmos com base nos nossos motivos mais profundos e não com base nessas táticas sociais que focam o sucesso a curto prazo. 

Aqui, dos paradigmas, para nos alertar da importância que eles têm na forma como percebemos o mundo. Acho que agora estamos completamente alinhados. Depois, ele fala-nos sobre como é que podemos estar mais atentos à questão dos paradigmas e traz-nos a diferença entre ética de caráter e ética da personalidade, que no fundo é o nosso contexto e a nossa motivação para querermos alterar quem somos, melhorar ou atingir uma determinada transformação pessoal.

Aqui entram os hábitos como ferramentas 

Já sabemos qual é a nossa motivação, já temos aqui esta reflexão. Será que o que nós queremos é parecer ter sucesso ou queremos, de facto, ter sucesso na vida? E o sucesso é diferente de pessoa para pessoa. Depois, ele traz-nos as tais ferramentas ou este mapa que ele nos apresenta, que são os tais hábitos. O autor associa muito a ideia de hábitos como princípios e não como práticas. Quer distanciar esta questão das táticas, porque as táticas podem funcionar para uma circunstância e não funcionar para outra, e os princípios são universais e funcionam sempre. Por exemplo, a educação de um segundo filho nunca é igual à educação do primeiro filho, e mesmo que seja igual, não é igual porque no segundo filho a família já não é a mesma. Enquanto no primeiro filho foram os dois pais, no segundo filho a família são os dois pais, o irmão ou irmã e o bebé. Então, como as práticas podem não resultar conforme alteração das circunstâncias, ele sugere que nós pensemos antes em princípios.

A importância dos princípios

Os princípios são verdades profundas que podem ser aplicadas a organizações, relacionamentos e indivíduos. No fundo, são aplicados a tudo. Vamos pensar em alguns princípios, como o princípio da imparcialidade. Este princípio está na base do valor da justiça. Uma pessoa que está no tribunal tem que ser imparcial, um juiz tem que ser imparcial e tem que basear-se apenas em factos antes de tomar a decisão. Outro princípio é a integridade, que está na base da confiança nas relações, seja entre indivíduos, entre indivíduos e organizações ou consumidores e um determinado produto. Este princípio da fidelidade e integridade é universal, está sempre correto, se nós agirmos de acordo com esse princípio, seja em Portugal ou em qualquer outro continente, não dependendo da cultura, são verdades universais.

Outro princípio é a dignidade humana, daí a carta dos direitos universais do homem, por exemplo. Outro é o princípio de servir, de contribuir, o princípio da qualidade e da excelência. Então, para ele, o mais importante é associarmos os hábitos a princípios e compreendermos que esses princípios são intemporais. Mais do que pensarmos em práticas, por exemplo, um dos hábitos é ser proativo. Mais do que pensar nas melhores práticas de ser proativo, porque ser proativo é importante, o que está por trás, qual é o princípio da proatividade? E com base nesse princípio, aí sim, nós vamos ter a capacidade de tomar decisões alinhadas com esse princípio.

O que é um hábito? 

É importante perceber, na ideia do autor, como se compõe um hábito. O que forma um hábito? Para ele, há três componentes que formam um hábito: o conhecimento, as capacidades e o desejo. O conhecimento tem a ver com o quê e o porquê que nós queremos mudar ou alterar. A capacidade tem a ver com sabermos como fazer, e o desejo tem a ver com termos a vontade de fazê-lo.

Por exemplo, se queremos criar o hábito de ler mais, primeiro temos que saber e reconhecer que queremos criar esse novo hábito, de querer ler mais, porque acreditamos que isso nos dará perspetivas a longo prazo. Depois, é preciso ter as capacidades. Se estamos a falar de alguma transformação, precisamos de criar essas competências. Portanto, precisamos de saber como fazê-lo. Mas nada disso serve se não soubermos o que fazer para ler mais. Isso pode incluir ir à biblioteca, comprar um Kindle da Amazon, ou arranjar uma prateleira num quarto para guardar mais livros. Portanto, já sabemos o que fazer e também já sabemos que queremos fazê-lo, que é ler mais. Mas é necessário ter o desejo, caso contrário, nunca estará no nosso radar. Assim, os hábitos são compostos por estas três componentes: conhecimento, capacidades e desejo. Antes de criar um hábito, é importante analisarmos se sabemos o que queremos mudar, se sabemos como devemos mudar e se realmente queremos mudar. Todas as três componentes estão interligadas e são interdependentes.

Interdependência

O autor traz também o conceito da interdependência. É como se fosse uma escada em que começamos a vida no conceito de dependência. Quando somos bebés, estamos completamente dependentes de outros seres para conseguirmos sobreviver. À medida que crescemos, tornamo-nos adolescentes e depois adultos. Quando chegamos à fase de adultos, já estamos independentes financeiramente, emocionalmente e em muitos outros aspetos. No entanto, o autor considera que o objetivo de alcançar a independência limita o nosso potencial. Para ele, o que importa é a interdependência. Nós vivemos em sociedade e reconhecemos a importância que outras pessoas têm nas nossas vidas. Conseguimos viver em interdependência, contribuímos para os outros e beneficiamos da contribuição dos outros.

Este é mais um conceito que o autor nos apresenta no início do livro, antes de começarmos a pensar que hábitos nos tornam altamente eficazes. Percebemos como influenciamos o mundo ao nosso redor e começamos a compreender os princípios pelos quais nos guiamos. O que é importante para nós? Quais são os nossos valores intemporais e universais, aqueles que não mudam?Percebemos que, para desenvolver um hábito, precisamos adquirir conhecimento sobre esse hábito. Precisamos compreender o que pretendemos mudar e adquirir as competências necessárias para essa mudança. Além disso, precisamos ter o desejo de mudar.

Finalmente, entendemos que o objetivo final, em última análise, nos leva à ideia de que, se desejamos viver uma vida mais feliz e eficaz, precisamos aprender a viver em interdependência. 

E tu agora dizes: 

  • “Amália, isso foi uma introdução gigante! Há algum outro conceito que o autor nos apresenta em seus paradigmas para transformação pessoal!

E eu respondo:

  • Há sim, e um deles é a ‘conta bancária das emoções’. Este conceito é importante para nós entendermos.

A conta bancária das emoções

Este conceito ensina-nos a prestar atenção ao equilíbrio entre o que depositamos na conta emocional das outras pessoas e o que retiramos, como se fosse dinheiro. Se tens um parceiro ou uma parceira, estarás a contribuir positivamente para a conta emocional deles, fazendo mais depósitos, ou estarás a retirar constantemente, esgotando a conta? Acho este conceito muito interessante, pois de nada nos serve criar hábitos se não estamos conscientes de como afetamos emocionalmente as outras pessoas nas nossas relações.

O que significa a eficácia? 

E agora, precisamos de entender o que significa eficácia. Quando falamos em ‘hábitos de pessoas altamente eficazes’, o autor introduz o princípio chamado ‘P/C – Produção/Capacidade Produtiva’. Isso pode parecer um pouco confuso à primeira vista, mas para compreender este princípio, ele conta a fábula da ‘Galinha dos Ovos de Ouro’. A história é sobre um lavrador pobre que descobre uma galinha que põe um ovo de ouro. Ele fica impaciente com a galinha só pôr um ovo de cada vez e, eventualmente, decide matá-la para obter todos os ovos de uma só vez. No entanto, ao abrir a galinha, ele descobre que não há ovos de ouro, e assim ele acaba por destruir a sua capacidade produtiva.

Produção / Capacidade produtiva

Para entendermos o que realmente significa eficácia, é essencial compreender o equilíbrio entre aquilo que produzimos (os ovos de ouro) e a nossa capacidade produtiva (a galinha). O autor usa esse princípio para explicar que a eficácia é o resultado desse equilíbrio entre o que queremos produzir e a capacidade que temos para produzir. 

Portanto, estes hábitos que nos vão ajudar a ter a capacidade de produzir o que desejamos produzir têm de estar sempre de acordo com este princípio. Identifico-me bastante com esta forma de ver as coisas quando falamos de eficácia, pois se não houver um equilíbrio entre ambos, os nossos esforços não terão valor.

Vamos pegar num exemplo de cansaço, que considero pertinente. Imagina que queres aumentar a tua capacidade produtiva no trabalho, seja numa empresa ou a trabalhar por conta própria. Queres ter mais resultados para destacares-te no mercado, junto dos clientes ou na tua equipa, para obteres uma promoção. Para isso, começas a escolher o caminho do cansaço: dormir menos horas, passar mais tempo no escritório ou a trabalhar mais horas. No entanto, o que está a acontecer é que estás a diminuir a tua capacidade produtiva porque estás a aumentar o nível de cansaço. Cedo ou tarde, isso vai virar-se contra ti. Estás, no fundo, a matar a “galinha dos ovos de ouro”, que é a tua capacidade produtiva. A curto prazo, podes ter mais produção e entregar mais resultados, mas a médio e longo prazo, estás a prejudicar a tua capacidade produtiva.

Este princípio de equilíbrio entre produção e capacidade produtiva é referido várias vezes pelo autor para nos chamar a atenção de que a eficácia está relacionada com este equilíbrio. Podes até obter excelentes resultados, mas também precisas de melhorar a tua capacidade produtiva para seres mais eficaz tanto na produção como na capacidade produtiva. Estes são os principais pontos abordados pelo autor na introdução do livro, que eu apreciei, pois se seguirmos este princípio, tornamo-nos mais conscientes dos nossos paradigmas e reagimos menos por impulso, uma vez que temos consciência da falta de informação, especialmente em relacionamentos com os outros. 

Se percebermos que, no final das contas, precisamos dos outros e que é necessário construir a nossa capacidade de interdependência, em vez de independência, podemos focar mais na ética do caráter e nos princípios fundamentais, em vez de nos concentrarmos apenas nas práticas de curto prazo. Para compreendermos o que constitui um hábito, é necessário conhecer as três componentes: o conhecimento, as capacidades e o desejo. Além disso, na vida, todos temos uma “conta emocional bancária” que é importante equilibrar, ou seja, não devemos retirar constantemente dos outros nem depositar constantemente em relação aos outros. É preciso haver um equilíbrio. Por fim, para sermos verdadeiramente eficazes, precisamos de nos concentrar não apenas na produção, mas também na capacidade produtiva. Esta é a mentalidade necessária para desenvolver os outros sete hábitos.

VITÓRIA PRIVADA

Agora, estamos preparados para começar a pensar nos sete hábitos compilados pelo autor, observando pessoas que ele considera bem-sucedidas. Vamos abordar a primeira parte, relacionada com a “Vitória Privada”. Estes três primeiros hábitos são relativos apenas a nós, ao nosso autoconhecimento, e não dependem de outras pessoas. São eles:

1. Ser proativo

2. Começar com um fim em mente

3. Primeiro o mais importante

1º Sê Proativo

O primeiro hábito, ser proativo, significa que somos responsáveis pelo que nos acontece, baseando-nos nas nossas escolhas, decisões e valores, em vez de nas circunstâncias. Devemos concentrar-nos no círculo de influência, ou seja, naquilo que podemos controlar e alterar, em vez de nos preocuparmos constantemente com o círculo de preocupação, que inclui problemas que não podemos controlar.

Começa com o fim em mente

O segundo hábito, começar com o fim em mente, envolve pensar no que gostaríamos de ser lembrados um dia. Visualizamos como queremos ser lembrados por colegas, amigos, familiares e outros. Podemos estar a pensar, por exemplo, ‘Eu criei este podcast com um objetivo em mente: conseguir alcançar os portugueses e levar a inteligência emocional de forma leve e divertida a cada vez mais pessoas. E partilhar aquilo que sei.’ Isto pode ser o meu fim, mas não é isso a que ele se refere. Quando se refere ao fim, ele refere-se mesmo ao fim.

Então, desafio-nos, e vou-te desafiar também, a fazer aqui um exercício de visualização. Já ouviste falar disto, e eu também tenho um episódio dedicado a isso logo nos primeiros 10. Então, fecha os olhos, e agora vamos percorrer esta história. Isto tem a ver com o que ele nos traz para pensarmos: qual é o nosso fim? Imagina que estás a sair de casa e, de repente, vês muitas pessoas de preto à tua volta. Entretanto, vais até uma capela mortuária, passas por todas as pessoas que lá estão, todas com um sentimento pesado de pena. Quando te aproximas da urna e vês a pessoa que lá está, essa pessoa és tu. Nós não temos esta tradição, portanto, vamos supor que a temos no futuro, à semelhança dos funerais americanos.

Então, vamos trazer esta ideia dos funerais americanos para Portugal. Existem oradores que vão a esse funeral falar sobre o quanto foste importante na vida dessas pessoas. Aqui, vais pensar num colega de trabalho, não um familiar, não um líder, não um amigo, mas alguém de uma comunidade a quem ajudaste. Vais pensar no que cada uma dessas pessoas diria sobre ti. Se tiveres filhos, também vais pensar no que eles diriam sobre a tua vida, quem eras tu, qual era o teu carácter, de forma a poder ajudar. Este é o fim em mente a que o autor se refere.

Portanto, quando pensamos em como gostaríamos de ser lembrados um dia, isto coloca em perspetiva todas as nossas decisões. E se tivermos este hábito de pensarmos: o que vou fazer hoje? Claro, temos que ser práticos, mas o que vou fazer hoje que repercussão teria no meu funeral? O que é que esta pessoa diria no meu funeral? E quando pensamos neste fim em mente, pensamos então nestes valores, nestes grandes princípios que queremos atingir. Por exemplo, para o meu filho, gostaria que ele se recordasse de mim como uma mãe que brincou com ele, que esteve presente, que o estimulou a ser inteligente nas suas emoções, que lhe deu liberdade para se tornar quem ele quer ser, que o apoiou nos momentos mais difíceis, que o ajudou quando mais precisava, que riu com ele, que viveu intensamente uma relação de mãe e filho, que foi uma pessoa feliz. E, por exemplo, quando penso no meu marido, gostaria que um dia ele se lembrasse de mim como uma mulher presente, uma esposa divertida, com muito amor por ele, que o ajudou a construir os seus próprios sonhos, que construímos sonhos juntos, que foi uma pessoa que o ajudou a ser melhor, e assim por diante.

A ideia é pensares em cada uma destas pessoas que fazem parte das esferas das nossas vidas e pensares como elas se lembrariam de ti. E lembrarmo-nos disto torna-se um hábito no nosso dia a dia. Isto vai ajudar-te a tomar decisões muito melhores. E há outra coisa que ele diz ainda neste princípio: as coisas são sempre criadas duas vezes. Todas as coisas são criadas duas vezes, primeiro na nossa mente e depois fisicamente. Esta poltrona foi criada primeiro na mente de um designer e depois foi produzida numa fábrica por várias pessoas. Este documento foi criado primeiro na minha cabeça e depois produzido numa gráfica. Portanto, se tudo é criado duas vezes e começa na nossa mente, temos que dar muita importância ao que começa na nossa mente, estar muito atentos ao que pensamos. 

Começa pelo mais importante 

O autor desafia-nos a colocar em primeiro lugar o que é mais importante. Aqui, é lógico. Temos vários papéis nas nossas vidas, como filho, pai, colega de trabalho, líder, amigo. Temos vários papéis, o que significa que vamos ter uma lista infinita de coisas para fazer. Como conseguimos organizar isto e dar prioridade ao que é realmente importante? Ele apresenta-nos uma matriz que vou apresentar.

Nós podemos então seguir esta matriz, esta matriz de tarefas, em relação ao que é importante, não importante, urgente. Portanto, aquilo que é importante e urgente, temos que fazer imediatamente. Aquilo que é importante, mas não é urgente, aí precisamos de mais tempo. Este é o segundo quadrante, e é um dos quadrantes mais importantes, porque nos permite pensar nos nossos objetivos, definir estratégias, visualizar o que precisamos. É o caderno que nos permite focar naquilo que é importante, mesmo que às vezes tenhamos coisas importantes que são urgentes e que não podemos pensar muito nelas. No trabalho, isso acontece muito. São importantes, são urgentes, e temos que despachá-las, temos que entregá-las, e não temos a capacidade de visualizar estratégias. Vamos reagir de forma pró-ativa.

Depois, temos um quadrante que se foca no que não é importante, mas que é urgente. E aí, o que temos que fazer é simples: largar isso. Não é importante, mas é urgente. Delega-se, se puder. Por exemplo, pagar as contas da casa é importante, mas pode ser delegado. Ou seja, não é importante, mas é urgente, e ligamos para isso.

E finalmente, temos o quadrante do que não é importante e não é urgente. Não perdemos tempo com isso, é simples. E sabem onde é que nós perdemos muito tempo? Na categoria ou no quadrante do que não é importante nem urgente. É aqui que o autor nos desafia a ficar no quadrante número 2, que é ficar no que é importante, mas não é urgente. É aí que vamos conseguir tirar o máximo da nossa capacidade produtiva. Talvez vamos conseguir os melhores resultados.

Portanto, cria o hábito de fazer de imediato aquilo que é importante e urgente, e de não perder tempo naquilo que não é nem importante nem urgente. Tomando decisões, organiza a tua agenda de acordo com aquilo que é importante, mas não é urgente. Isto vai tornar-te uma pessoa muito mais eficaz.

VITÓRIA PÚBLICA

Agora, passamos para os outros três hábitos que estão na segunda parte, que é a Vitória Pública. Esta parte já significa que estamos interdependentes, que já não estamos apenas dependentes de nós próprios. E aqui cabem três princípios: 

  • criar sinergias,
  • pensar sempre numa filosofia de ganha-ganha 
  • procurar compreender antes de ser compreendido.

Estes são os três princípios que nos vão levar aqui a uma eficácia do ponto de vista público. Já não pensamos apenas em nós.

Cria sinergias

Vamos começar pelo primeiro: como podemos criar esta vida que queremos? Sinergias.  O ‘mais um é maior do que dois’ significa que quando nos juntamos a outras pessoas, a outras organizações, o resultado é sempre melhor, é sempre maior do que quando fazemos as coisas por nós próprios. Aqui ainda vou explorar muito este conceito, porque acho que todos conseguimos perceber a importância das sinergias, em vez de tentarmos fazer as coisas numa ilha, sozinhos. 

Pensa Ganha-Ganha

Passamos agora para o quinto hábito, que é o Pensar Ganha-Ganha, que é uma filosofia e que toda a gente conhece. É a expressão em que o resultado é uma vitória para ambas as partes, senão nem sequer vale a pena. Isto é tão simples quanto isso. As decisões que nós vamos tomar são baseadas nesta filosofia: ou ambas as partes ganham, ou não vale a pena. Este desafio é interessante, como ele vai buscar novamente o conceito da conta bancária emocional, e como aqui é tão importante percebermos se o número de depósitos que nós fazemos e o número de levantamentos que fazemos está equilibrado. Se alguém ganha e as partes ganham. Se nós temos sempre a retirar do outro, ou não convém estarmos sempre a depositar nos outros, porque isso também é desequilibrado para nós. Ele convida-nos a desenvolver uma mentalidade de abundância em vez de uma mentalidade de escassez. Um livro fantástico para abordar estes dois conceitos da mentalidade de escassez e da mentalidade de abundância é o livro de Harv Eker, que é ‘Os Segredos da Mente Milionária’. Acho que vais perceber exatamente esta lógica. E é engraçado que ele utiliza também a ideia da programação, muitas vezes, nós precisamos de trocar aqui a nossa mentalidade.

Compreende antes de ser compreendido

Agora vamos passar para o sexto hábito, que é procurarmos compreender antes de sermos compreendidos. Curiosamente, este hábito está muito bem explicado no episódio do podcast com Alexandre Monteiro. Ele fala sobre a importância de procurarmos entender antes de sermos entendidos. Um exemplo muito simples e prático é que, às vezes, dá a sensação de que as pessoas estão à espera que nós falemos para elas poderem falar, para interromperem. Isto é procurar ser compreendido antes de compreender. No livro ‘Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas’, Dale Carnegie também fala muito sobre isto, sobre a importância de nós primeiro compreendermos, de não nos acharmos mais importantes que os outros. Isto faz toda a diferença nas relações, porque está na base dos nossos grandes princípios e valores, na essência e não na aparência. Para conseguirmos este hábito, precisamos de ter a audição simpática, esta capacidade de empatia é um elemento fundamental na Inteligência Emocional, esta capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, de percebermos as limitações dos nossos paradigmas. Isto tudo está interligado, e este é um princípio que nos leva à interdependência, percebemos que não estamos sozinhos, que precisamos dos outros, e que quando compreendemos os outros, conseguimos criar melhores energias e fazer com que ambas as partes beneficiem, na filosofia do ganha-ganha.

Renova a ferramenta

O último hábito é um hábito que se traduz em renovação. Os primeiros hábitos estão na Vitória Privada, os segundos três hábitos estão na Vitória Pública, e o último hábito enquadra-se nesta filosofia de renovação. Ele fala de afiar o instrumento. Afinar o instrumento, aliás, e dá-nos o exemplo do lenhador que, ao aguentar mais árvores, cortava mais, mas demorava mais tempo. Alguém diz-lhe para afiar o machado, mas ele não quer perder tempo com a capacidade produtiva, quer apenas o resultado, criar mais produção, cortar mais árvores. No entanto, ele não queria cuidar da galinha, alimentar a galinha, queria apenas o ovo. Quando pensamos nesta história, percebemos que é importante continuarmos sempre a melhorar, a não estagnarmos. Aliás, o próprio autor diz que é um desafio manter estes sete hábitos no seu dia a dia, e ele não se coloca acima de nós, não acha que é um exemplo absoluto. Ele também está a percorrer este caminho, a melhorar sempre.

Acho que estes desafios, estes hábitos, são simples, mas são difíceis, são mesmo difíceis de cumprir. Então, falamos aqui em quatro tipos de renovação: na renovação física, na renovação mental, na renovação emocional e social, e na renovação espiritual. Aqui voltamos também para nós, não só porque depois repercute nas nossas relações, mas tem muito a ver com o nosso autoconhecimento. 

A renovação física pode traduzir-se num exercício na nutrição, na forma como nos alimentamos. A nossa renovação mental tem a ver com os livros que escolhemos ler, os podcasts que escolhemos ouvir. Esta é a toxina que podemos escutar, tem a ver com a forma como queremos construir as nossas relações, que relações é que queremos construir, como é que gostaríamos de ser lembrados no nosso canal. Esta é muito forte.

A renovação espiritual tem a ver, por exemplo, com práticas como meditar, como termos até aqueles hábitos que Tony Robbins mencionou no início. Também pode ser uma vergonha todos os hábitos que nos possam ajudar a ter uma mente num corpo só e estas são as ideias de pessoas altamente eficazes: ser proativo, começar com confiança em mente, colocar em primeiro lugar o mais importante, criar sinergias, pensar em alguém para compreender, a gente quer ser compreendido e afinar um instrumento.

CONCLUSÃO

Espero que tenhas gostado da forma como trouxe aqui algumas das ideias principais do autor. Achei muito desafiante mesmo trazer aqui, no fundo, estas ideias porque é um livro complexo, é um livro cheio de ideias simples, mas muito, muito desafiantes de executar no dia a dia. Mas acho que são hábitos que nos tornam melhores pessoas, que nos ajudam a transformar as nossas relações, que nos ajudam a obter uma transformação pessoal, e que nos ajudam a pensar nas nossas bases: qual é a nossa missão, visão, quais são os valores, e como é que isso se reflete depois nos resultados, na nossa produção, na nossa capacidade produtiva.

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